Homilia de Posse Canônica de Dom Luiz Antonio Lopes Ricci, Diocese de Itapetininga
“O Senhor fez em mim maravilhas, Santo é o Seu Nome!
“Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito, alegrai-vos”! (Fl 4,4).
“Sede agradecidos”! (Cl 3,15).
“Sede Misericordiosos”! (Lc 6,36).
“Quantas vezes eu quis reunir teus filhos”! (Mt 23,37).
“Tudo nasce para florescer numa eterna primavera. No final, diremos apenas não me lembro de nada em que Tu não estejas (e sempre esteve). É preciso ser humilde, deixar espaço para o Senhor, não para nossas falsas seguranças. A ternura não é fraqueza: é verdadeira força. É a estrada percorrida pelos homens e pelas mulheres mais fortes e corajosos. Vamos percorrê-la e lutar com ternura e coragem. Sou apenas um passo!” (Franciscus, Autobiografia). Gratidão querido Papa Francisco! Reze por nós!
Minha primeira palavra é Gratidão! Gratidão a Deus Uno e Trino “cujo poder, agindo em nós, é capaz de fazer muito além, infinitamente além de tudo o que podemos pedir ou conceber (Ef 3,20). “Como retribuirei ao Senhor por todo o bem que Ele me fez?” (Sl 116,12). Gratidão Senhor por tudo e por tanto! No início dessa nova missão renovo minha confiança total na Trindade Santa, rezando: “Completai em mim a obra começada; ó Senhor, vossa bondade é para sempre! Eu vos peço: não deixeis inacabada esta obra que fizeram vossas mãos” (Sl 138,8). Precisamos permitir que Deus continue sua obra para ser o que podemos e devemos ser: mais humanos e santos. Desejo corresponder à Graça habitual e de estado, contando sempre com a assistência do Espírito Santo que governa a Igreja, com a preciosa colaboração do Clero e do Povo Santo de Deus, vivenciando concretamente a sinodalidade, por meio da comunhão eclesial, diálogo, discernimento sereno e colegiado e participação alegre, criativa e generosa.
Agradeço ao estimado Papa Francisco pela nomeação para Bispo de Itapetininga, ao Sr. Núncio Apostólico Dom Giambattista Diquattro, à Igreja a quem devo tanto, especialmente à Diocese de Bauru, Arquidiocese de Niterói, à querida Diocese de Nova Friburgo e aos irmãos Arcebispos, Bispos e fieis leigos do Regional Leste 1 que me acolheram por quase oito anos, desde o início do meu episcopado. Minha gratidão pela acolhida aqui no Regional Sul 1, com minha saudação aos irmãos Bispos e Arcebispos, especialmente a Dom Júlio Akamine, Administrador Arquidiocesano de Sorocaba, que me conferiu a Posse Canônica, após apresentação da Bula Papal, a Dom José Francisco, Arcebispo de Niterói, até então meu Metropolita, amigo e irmão, e a todos os senhores bispos que me honram com a significativa presença. Por fim, e não menos importante, é claro, minha sincera gratidão ao meu antecessor, o querido e dedicado Dom Gorgônio, agora nosso bispo emérito que governou esta Diocese por quase 27 anos, como primeiro bispo diocesano. Gratidão por tudo e por tanto, especialmente pelo testemunho de humildade, incansável trabalho e amor à Igreja e Diocese. Será muito bom contar com a sua presença e colaboração na missão a mim confiada.
Saúdo com gratidão minha querida família de sangue, que me acompanha com tanto amor e cuidado. Minha cordial saudação aos irmãos e irmãs, minha família eclesial, os de longa data e os mais recentes, e a todos e todas que fazem parte de minha vida e história, que me acompanham com orações, presença, proximidade, mensagens e transmissão pela TV Canção Nova e mídias sociais. O Amor de Cristo e a Cristo nos uniu e nos mantêm unidos. Gratidão de modo muito especial aos irmãos e irmãs da querida Diocese de Nova Friburgo, por tantos gestos de amor e cuidado que recebi durante os quase cinco anos de governo pastoral e, sobretudo agora, nas despedidas e partida.
Minha saudação especial aos sacerdotes que formam o Presbitério da Diocese de Itapetininga, colaboradores imediatos da Ordem Episcopal, aos diáconos permanentes, seminaristas, consagrados e consagradas, autoridades civis, políticas e militares, nosso prefeito Sr. Jeferson Brun, Deputada Federal Sra. Simone Marqueto, irmãos e irmãs das diversas denominações cristãs e religiosas, meios de comunicação e a todo o povo de Deus, cristãos leigos e leigas da Diocese de Itapetininga.“Com vocês sou irmão” em Cristo e servidor na vinha do Senhor”. Estarei entre vocês como colaborador e aprendiz, com o sincero desejo de ser um pastor samaritano “que vê, sente compaixão e cuida” (cf. Lc 10, 33-34). Estou certo de poder contar com as orações, proximidade, paciência, compreensão e colaboração de todos e todas para o exercício dessa nova missão a mim confiada por Jesus Cristo, o Bom Pastor. Sabemos que “é Nele que toda a construção se ajusta e se eleva para formar um templo santo no Senhor” (Ef 2,21). Por isso pedimos constantemente: fica conosco Senhor e vem Espírito Criador!
“A alegria do Senhor é a nossa força”! (Ne 8,10) Como falar de alegria, em minha posse canônica, enquanto vivenciamos a dor e o luto pela morte do nosso querido Papa Francisco? Estamos no Ano Jubilar, caminhando com peregrinos da esperança, rezando pelo peregrino da esperança, Franciscus, que fez a sua páscoa na Páscoa de Cristo. Sabemos que a alegria é fruto do Espírito Santo (cf. Gl 5,22) e uma virtude cristã. Nosso estimado Papa Francisco insistiu muito no tema da alegria. Alegria do Evangelho, alegria do amor, alegria da verdade e alegria oriunda da vivência cristã, serviço generoso e busca da santidade. Nossa Diocese tem como Padroeira, Nossa Senhora dos Prazeres, das alegrias pascais. Que Itapetininga, seja a Diocese da Alegria, tão presente e vibrante no nosso dedicado e generoso povo de Deus. Jesus disse que “há mais alegria em dar do que em receber” (At 20,35) e, ao término do lava pés: “serão felizes se compreenderem o que eu fiz e o puserem em prática” (Jo 13,17). Portanto, está indicado o caminho da autêntica felicidade e duradoura alegria. São Francisco de Assis ensina a “perfeita alegria” que consiste em manter a serenidade, a confiança e a paz nas situações adversas e de sofrimento. Como nos ensina o Profeta Habacuc: “ainda que a figueira não floresça e não haja fruto na vinha… eu me alegrarei em Deus” (Hab 3,17.19). Tomemos posse dessa alegria que vem do Senhor para tornar a nossa vida mais leve e feliz. Alegrai-vos, sou Eu, disse o Ressuscitado.
Gratidão e Misericórdia. Penso que a alegria é, também, fruto da gratidão. Agradecer sempre a Deus e aos irmãos e irmãs é um modo de ser que produz alegria e contentamento. Disse o Papa Francisco: “a gratidão, o reconhecimento, é antes de tudo um sinal de boa educação, mas é também um distintivo do cristão. É um sinal simples e genuíno do Reino de Deus, que é Reino de amor gratuito e generoso”. Portanto, penso que devemos conectar alegria e gratidão. Porém, para tanto, urge praticar a misericórdia. Para “ouvir cantos de festa e de alegria” (Sl 50,10) é necessário voltar para o Pai, pedir perdão a Deus e aos irmãos e dar o perdão a quem nos ofende. Um dos segredos do bem viver é a capacidade de transformar feridas em cicatrizes. A alegria é resultado do perdão e prática da Misericórdia. Quem se sente perdoado e também oferece o perdão se alegra e experimenta a satisfação da Reconciliação com Deus, com os outros e consigo mesmo. O perdão precede a alegria! A Igreja, nossa Diocese, precisa ser o lugar do perdão, da alegria e da festa. Jesus nos ensina que é preciso saber corrigir e perdoar. A correção fraterna é um princípio evangélico que permanece válido, sobretudo em tempos de ódio difuso, desrespeito, polarizações, falta de diálogo e dificuldade de conviver com as diferenças e buscar a Reconciliação, “a paz e a fraternidade entre os povos”.(Franciscus) Somos maduros o suficiente para conversar, embora, infelizmente, alguns prefiram “postar”, agredir e não dialogar respeitosamente, causando preocupantes divisões e conflitos. Deus quer nos abençoar, “na medida, em que cada um se converta de suas maldades”(At 3,26). Busquemos incansavelmente a nossa conversão, para sermos autênticas testemunhas do Ressuscitado. “A paz esteja convosco”, é a primeira palavra do Ressuscitado, como ouvimos no Evangelho de hoje, mesmo após sofrer a rejeição, o desprezo, o sofrimento, o abandono e a morte.
Hoje, mais do que antes, precisamos aprender a lidar com as tensões e legítimas diferenças, de modo dialógico e fraterno, colocando a unidade e a caridade em primeiríssimo lugar. Assim nos ensina o Papa Francisco: “Quero lembrar que, na Igreja, convivem legitimamente diferentes maneiras de interpretar muitos aspectos da doutrina e da vida cristã, que, na sua variedade, ajudam a explicitar melhor o tesouro riquíssimo da Palavra” (GE, n. 43). “A realidade é que tal variedade ajuda a manifestar e desenvolver melhor os diversos aspectos da riqueza inesgotável do Evangelho” (EG, n. 40). Conviver com as legítimas diferenças, buscando a unidade na doutrina e na caridade, é um imperativo e forte testemunho de vida autenticamente cristã.
Gostaria de recordar, num espírito de partilha, algumas prioridades que podem nortear nossa vida, ações pastorais e exercício do nosso ministério, na incansável busca da unidade e santidade pessoal e eclesial, sempre à luz da fé em Cristo, nosso “Primeiro Amor” (Ap 2,4), da confiança encorajadora, do desejo de paternidade espiritual e pastoral, da abertura à novidade e do não esquecimento dos pobres e necessitados (cf. Gl 2,10). Tudo isso dentro do fecundo ventre da Igreja Mãe e Mestra! Gerar, partejar e se “autopartejar” em Deus, é preciso! Florescer e frutificar também! “Cada ser em si carrega o dom de ser capaz, e ser feliz”. Sejamos santos e humanos, humanos e santos! Seguem as indicações referenciais para vivenciar concretamente a sinodalidade na comunhão, participação e missão.
Quatro princípios do Papa Francisco para orientar uma convivência pacífica:
O tempo é superior ao espaço: dar continuidade e “iniciar processos, sem ansiedade, mas com convicções claras e tenazes”.
A unidade prevalece sobre o conflito: “a forma mais adequada de enfrentar o conflito é aceitar suportar o conflito, resolvê-lo e transformá-lo no elo de ligação de um novo processo. ‘Felizes os pacificadores’ (Mt 5, 9)!”. O amor tudo suporta e supera!
A realidade é mais importante do que a ideia: o real se impõe e pede resposta plausível. Não podemos nos distanciar da realidade social e concreta das pessoas, especialmente dos mais necessitados, pobres e vulneráveis. Diz o Papa: “A realidade simplesmente é, a ideia elabora-se. Entre as duas, deve estabelecer-se um diálogo constante, evitando que a ideia acabe por separar-se da realidade. É perigoso viver no reino só da palavra, da imagem, do sofisma”. Como nos ensina Santo Antonio: “a palavra é viva quando são as obras que falam. Cessem os discursos e falem as obras”.
O todo é superior à parte: “não se deve viver demasiado obcecado por questões limitadas e particulares. É preciso alargar sempre o olhar para reconhecer um bem maior que trará benefícios a todos nós”.
Minhas quatro humildes propostas:
Alegria: “Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito, alegrai-vos”! (Fl 4,4).
Gratidão: “Sede agradecidos”! (Cl 3,15).
Misericórdia: “Sede Misericordiosos”! (Lc 6,36).
Unidade: “Quantas vezes eu quis reunir teus filhos”! (Mt 23,37).
Com quatro atitudes na missão evangelizadora, à luz do Papa Francisco:
Alegria do Evangelho: Evangelizar com alegria.
Alegria do Amor: Evangelizar com amor.
Alegria da Verdade: Evangelizar na verdade.
Alegria e Exultação: Busca da santidade pessoal, comunitária e eclesial.
Que Nossa Senhora dos Prazeres interceda por mim e pela nossa Igreja Particular Itapetininga para que possamos, unidos, permanecer no Amor de Cristo, tendo os mesmos sentimentos Dele, vivendo por Ele, fazendo tudo por Amor e com amor.
Aprendi que Itapetininga significa “caminho de pedras secas”. A grande pedra foi removida e Cristo Vive. O Sepulcro está vazio. Como peregrinos da Esperança, sigamos no Caminho do Senhor, removendo as pedras para que outros passem com leveza e segurança, coragem e perseverança, dignidade e cuidado, lançando as sementes do Amor em terras férteis e acolhedoras. Assumo a nova missão com o desejo de construir pontes, sempre por meio da escuta atenta e ativa, diálogo, respeito, comunhão eclesial e participação, colaborando para “aterrar os vales e aplainar montanhas e colinas” (cf. Lc 3,5), imitando Nossa Senhora que se dirigiu apressadamente a uma região montanhosa para visitar e servir, levando em seu ventre virginal o ˜Autor da Vida˜. Para tanto, peço com humildade a Deus, como o fez Salomão: “Dá, pois, a teu servo, um coração compreensivo, capaz de governar o teu povo e de discernir entre o bem e o mal” (1 Rs 3, 9).
Que o Senhor faça em nós e por meio de nós maravilhas! Onde Reina o Amor, Deus aí está! Gratidão a vocês que vieram de perto e de longe. Gratidão a vocês que rezam comigo acompanhando minha posse pela TV e Redes Sociais. Gratidão a todos e todas que, com esmero, generosidade e dedicação colaboraram na preparação, acolhida e realização deste momento pascal e betânico. Vamos em frente, unidos no olhar da fé em Cristo Vivo! Navegaremos juntos, na Barca de Pedro, com o Ressuscitado, pascalizando as relações, unificados no Banquete Eucarístico e pedindo incessantemente: “fica conosco Senhor!” para buscarmos a Reconciliação e sermos reconciliadores no Amor, Paz, Justiça e Misericórdia.
Sou apenas um passo, afirmou Franciscus. E que passo e legado! Que todos e cada um dê o seu passo, contudo e sobretudo, no compasso do Mestre Jesus. Os nossos passos são Teus, amado Jesus. Conduza-nos no caminho da vida e do amor! Rezem por mim! Gratidão!
Dom Luiz Antonio Lopes Ricci – Bispo de Itapetininga, 24/04/25
