OURO PRETO/MG RECORDA HOJE O BI-CENTENÁRIO DE MESTRE ALEIJADINHO

Antônio Francisco Lisboa, artífice, nascido de pai português e mãe escrava forra [escrava liberta por carta de alforria] no século XVIII em Minas Gerais, criador de esculturas em madeira e pedra-sabão, mestre, pai, mundialmente conhecido como Aleijadinho, tem nesta terça-feira (18) a celebração de 200 anos de sua morte.

Mestre Aleijadinho, um dos mais importantes nomes da arte barroca brasileira. Enterrado em 1814 na Matriz Nossa Senhora da Conceição em Antônio Dias, bairro de Ouro Preto.
Mestre Aleijadinho, um dos mais importantes nomes da arte barroca brasileira.
Enterrado em 1814 na Matriz Nossa Senhora da Conceição em Antônio Dias, bairro de Ouro Preto.

Com trabalhos em madeira e pedra-sabão, o mestre deixou como legado importantes obras religiosas que ornam igrejas de várias cidades brasileiras. Uma das que mais se destaque é o conjunto do Santuário do Bom Jesus do Matosinhos, em Congonhas, onde estão os 12 profetas esculpidos em pedra-sabão e os passos da Paixão de Cristo. O conjunto foi elevado pela Unesco a Patrimônio Cultural da Humanidade, em 1985.

PROFETAS BÍBLICOS
PROFETAS BÍBLICOS

Entre os ícones da produção do artista está a Igreja de São Francisco de Assis, arquitetada por ele em 1766, além de ter detalhes também de autoria da oficina, como o altar-mor, o retábulo, o frontispício e a fonte-lavabo da sacristia.

Em 1767, morreu seu pai, o arquiteto português Manoel Francisco Lisboa. Mas, como Aleijadinho não era filho legítimo, não foi contemplado no testamento.

Em 1777, Aleijadinho vai à cidade do Rio de Janeiro, para um processo judicial de reconhecimento de paternidade de seu filho, que leva o mesmo nome do avô, Manoel Francisco Lisboa, com uma escrava forra, assim como sua mãe o era quando o mestre nasceu, chamada Narciza Rodrigues da Conceição.

 

Ainda em 1777, é detectada uma doença grave, que lhe deforma o corpo e os membros, principalmente as mãos. O apelido Aleijadinho é dado ao artista por causa desta enfermidade, que o faz trabalhar de joelhos após perder os dedos dos pés. O certo é que, ou por ter negligenciado a cura do mal no seu começo, ou pela força invencível do mesmo, Antônio Francisco perdeu todos os dedos dos pés, do que resultou não poder andar senão de joelhos; os das mãos atrofiaram-se e curvaram, e mesmo chegaram a cair, restando-lhe somente, e ainda assim quase sem movimento, os polegares e os indicadores. As fortíssimas dores que de continuo sofria nos dedos e a acrimônia do seu humor colérica o levou, por vezes, ao excesso de corta-los ele próprio, servindo-se do formão com que trabalhava! As pálpebras inflamaram-se e, permanecendo nesse estado, ofereciam à vista sua parte interior; perdeu quase todos os dentes e a boca entortou-se como sucede frequentemente ao estuporado, o queixo e o lábio inferior abateram-se um pouco; assim o olhar infeliz adquiriu certa expressão sinistra e de ferocidade, que chegava mesmo a assustar a quem quer que o encarasse inopinadamente. Esta circunstância e a tortura da boca o tornavam de um aspecto asqueroso e medonho.

Em 1800, o artista trabalhava na execução das estátuas em pedra-sabão dos profetas, localizadas no adro do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas. Os seis passos da Paixão de Cristo, representados nas capelas em frente ao Santuário, também foram construídos nesta época, também pela oficina do mestre Aleijadinho.

Os profetas e a Paixão de Cristo, em Congonhas,  e a Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, são reconhecidas como as maiores obras do artífice. Aleijadinho deixou para a posteridade, ainda, capelas, igrejas, ornamentações em várias cidades como Sabará, São João Del Rei, Tiradentes, Caeté, Mariana, Felixlândia, Matosinhos, Barão de Cocais e São Paulo (capital), com peças hoje no Palácio dos Bandeirantes.

O corpo de Aleijadinho está sepultado na Matriz Nossa Senhora da Conceição, no bairro de Antônio Dias, em Ouro Preto, em uma sepultura contígua ao altar da Senhora da Boa Morte, de cuja irmandade foi juiz.