PAPA VAI ENCONTRAR UM MÉXICO PROFUNDAMENTE RELIGIOSO

Falta um dia para a chegada do Papa Francisco ao México, onde permanecerá até o dia 17 de fevereiro. Uma viagem de cinco dias ao segundo país mais católico do mundo por população, depois do Brasil. É a sétima visita de um Pontífice ao país centro-americano, após as 5 viagens de João Paulo II e a de Bento XVI. João Paulo II esteve no país em 1978, 1990, 1993, 1999 e 2002, já Bento XVI em 2012.

Mais um detalhe: será a primeira vez que será recebido no Palácio Nacional, como chefe do Estado da Cidade do Vaticano, independentemente da sua figura apostólica e pastoral. Recordamos que por ocasião da primeira histórica visita de João Paulo II em 1978, estava ainda em vigor as normas anticlericais que proibiam aos Sacerdotes vestirem seus hábitos religiosos fora das igrejas, e que em prática foi violado pelo Papa. João Paulo recebeu uma multa por isso; multa que foi paga, em público, pelo então Presidente do país José López Portillo.

Todas as oito Constituições que o México teve entre 1813 e 1856 haviam estabelecido o catolicismo como religião obrigatória, e a de 1857 dava liberdade de consciência mas com preferência ao catolicismo. Na Constituição de 1917 havia o artigo terceiro, que negava à Igreja o direito à Educação. O artigo quinto, que negava aos religiosos o voto. O artigo 24, que limitava a liberdade de credo. O artigo 27, que proibia às Igrejas possuírem bens. O artigo 130 negava a personalidade jurídica.

Os grupos que tinham triunfado durante a Revolução mexicana impuseram uma Constituição radical e em particular quando o então Presidente Calles tentou regulamentar o artigo 130 houve a insurreição dos católicos em nome da liberdade de consciência que passou à história como “Cristiada”.

Segundo análise histórica a “Cristiada” foi um processo justificado à luz de fatos pós-revolucionários que haviam causado uma ferida aberta na consciência do povo mexicano. Precisamente esse processo permite hoje aos mexicanos dar valor à capacidade de resolver os problemas com o diálogo, compreensão e distensão, ao invés da violência.

Após a guerra se registrou um longo período de coexistência entre Estado e Igreja substancialmente amigável, mas formalmente os artigos de lei anticlericais tiveram uma duração de 75 anos. Em 1992 foi aprovado o projeto de reforma que permitiu seja o reconhecimento dos direitos da Igreja, seja o reconhecimento diplomático entre México e Santa Sé.

Mas qual México Francisco encontrará? Quem nos responde é o Arcebispo de Cidade do México, Cardeal Norberto Rivera.

“O México vive uma situação muito especial porque durante a primeira visita do Santo Padre não existiam relações com a Santa Sé. Não havia, poderíamos dizer, liberdade religiosa oficialmente , tínhamos uma liberdade religiosa permitida. Hoje constitucionalmente está aprovada a liberdade religiosa. Então, a partir disso foram dados passos muito importantes nas relações não somente com a Santa Sé mas também nas relações dos governantes com a hierarquia local. Antes tínhamos que nos esconder para conseguir audiências ou alguma colaboração. Agora temos um clima muito favorável. Por isso, o Papa encontrará um México que ele mesmo notará, com progressos muito importantes em seu desenvolvimento econômico, político e social. Ao mesmo tempo um México que vive situações graves de violência, de pobreza, e em alguns lugares, muito cruel, com uma pobreza extrema. O Papa vai encontrar um México que quer dar passos com maior transparência na administração pública. E também um México que é profundamente religioso mas ao mesmo tempo vive antivalores que são totalmente contrários à fé cristã, como é a violência”.

Nesta sexta-feira o povo mexicano recebe o Papa Francisco que chega ao país, como ele mesmo disse nos dias passados em uma mensagem, “não como um Rei Mago, carregado de coisas para levar”, mas sim “como um peregrino”. “Vou buscar a fé que vocês têm, vou para deixar-me contagiar pela riqueza desta fé”, disse.

Francisco recordou ainda Nossa Senhora de Guadalupe, afirmando que os mexicanos não são um povo órfão, porque eles têm uma Mãe “e quando um homem ou uma mulher ou um povo não se esquece de sua Mãe, possui uma riqueza que não se pode descrever”. E o dito popular: “também um mexicano ateu é um guadalupano”. A Mãe “é a grande riqueza que vou procurar no México” finalizou Francisco.