SOLIDARIEDADE AOS FAMINTOS SE TRANSFORME EM GESTOS CONCRETOS

Nesta sexta-feira, 16 de outubro, comemora-se o Dia Mundial da Alimentação. A FAO, organismo da ONU para agricultura e a alimentação, definiu como tema “Proteção Social e Agricultura: quebrando o ciclo da pobreza rural”. O objetivo é chamar a atenção do mundo sobre o papel essencial desempenhado pela proteção social na erradicação da fome e da pobreza.

Segundo a FAO, a proteção social salvou cerca de 150 milhões de pessoas em todo o mundo de caírem na pobreza extrema. Apesar desses números positivos, a Organização alerta que 800 milhões de pessoas ainda não têm o suficiente para comer e que uma em cada três crianças está malnutrida.

O que é ‘proteção social’

Entendem-se por proteção social mecanismos como transferências de dinheiro para famílias vulneráveis, vales de refeições, programas de seguro sanitário ou refeições escolares, e a vinculação dos mesmos a contratos de aquisição aos agricultores locais.  As transferências ajudam as famílias a gerir o risco e a mitigar os impactos que de outro modo os manteriam presos na pobreza e na fome.

Neste dia, o Papa Francisco escreveu uma mensagem ao Diretor-geral da Organização, o brasileiro José Graziano da Silva, reiterando o nosso compromisso em encontrar os meios necessários para libertar a humanidade da fome e promover uma atividade agrícola que seja capaz de satisfazer as necessidades das diferentes áreas do nosso planeta.

Para o Pontífice, o tema deste ano é importante porque salienta a questão da proteção social, de que dois terços da população mundial carece. A maior parte destas pessoas são agricultores, pescadores, criadores e florestais obrigados a viver na precariedade, pois o seu trabalho se subordina a condições ambientais que eles não podem controlar e porque não possuem meios para remediar às safras ruins ou comprar instrumentos técnicos. “Paradoxalmente, quando a colheita é abundante, há dificuldade de transporte, comércio e conservação dos frutos de seu trabalho”, escreve o Papa, revelando que muitas pessoas encontradas em visitas pastorais lhe contaram as suas dificuldades e as repercussões que estas situações causam em sua vida pessoal e familiar.

Pessoas, não números

Na segunda parte da mensagem, Francisco questiona: “É possível conceber uma sociedade em que os recursos estão em mãos de poucos e os menos privilegiados são obrigados a recolher apenas as migalhas?”

A resposta não se pode limitar às boas intenções, mas consiste na “paz social, isto é, a estabilidade e a segurança de uma certa ordem, que não se realiza sem uma atenção particular à justiça distributiva, cuja violação gera sempre violência”.

Lembrando que as maiores vítimas são “as pessoas e não números”, que pedem a nossa ajuda para olhar ao futuro com um mínimo de esperança, o Papa exorta “os Governos e Instituições internacionais a agir rapidamente, fazendo todo o possível, no que concerne à sua responsabilidade”.

À FAO o Papa pede diretamente que considere os direitos dos famintos e acolha suas aspirações, traduzindo a solidariedade em gestos concretos, “não somente administrando os riscos sociais e econômicos ou levando socorro quando há catástrofes ou crises ambientais”.

Rejeitar pessimismo e indiferença

A Igreja, ressalva Francisco, não tem a missão de analisar a proteção social do ponto de vista técnico; todavia, os aspectos humanos destas situações não a deixam indiferente. “A Criação e os frutos da terra são dons de Deus conferidos a todos os seres humanos. Por isso, são destinados a ser divididos igualmente entre todos. Isto requer uma firme vontade de enfrentar as injustiças que ofendem a dignidade humana e ferem profundamente a nossa consciência”, prossegue o Papa, repelindo posições de pessimismo e indiferença.

Em relação à Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, recentemente aprovada pelas Nações Unidas, Francisco alertou que não se reduza a um conjunto de regras e acordos, mas inspire um novo modelo de proteção social. “Evite-se usá-la em benefício de interesses contrários à vida humana ou para justificar atitudes de omissão que não resolvem os problemas, mas agravam as desigualdades”.

“Que cada um dê o melhor de si e em espírito genuíno de serviço”, pediu, invocando para o Diretor e todos os colaboradores da FAO a benção de Deus, rico de misericórdia.